Divagações: Iris (2014)

Para ser um ícone da moda, uma pessoa precisa ser única e inovadora – a ponto de ditar tendências e ser considerada “à frente de seu tempo...

Para ser um ícone da moda, uma pessoa precisa ser única e inovadora – a ponto de ditar tendências e ser considerada “à frente de seu tempo” – e, ao mesmo tempo, também é preciso ter uma conexão com as pessoas, criar uma empatia (sob a pena de ser simplesmente esquecido em pouco tempo). Iris Apfel é tudo isso. Contudo, parece que as pessoas demoraram um pouco para se dar conta de sua relevância.

O documentário Iris, dirigido por Albert Maysles, apresenta essa pessoa fantástica para um público mais amplo. Depois de trabalhar muito tempo com decoração de interiores e na indústria de tecidos, essa profissional do estilo adquiriu coleções invejáveis de objetos decorativos, móveis, acessórios e, claro, roupas. Ainda que fosse bastante conhecida dentro de seu círculo profissional, ela só foi realmente ‘descoberta’ em 2005, quando o Metropolitan Museum of Art, em Nova York, fez uma mostra (quase improvisada, diga-se de passagem) com parte de sua coleção.

Aos 93 anos na época de lançamento do filme, Iris Apfel ainda é vista como uma pessoa ativa. Sua saúde, obviamente, é uma de suas maiores fontes de preocupação. Mas isso não impede que ela atende a uns 50 telefonemas por dia, participe de programas de televisão e eventos, dê entrevistas, saia para fazer compras e tenha uma participação ativa em montagem de vitrines e outros negócios.

Aliás, esse é um detalhe particularmente especial de Iris. O filme não se foca no passado da artista. Ainda que explique sua trajetória, o objetivo maior é apresentar a retratada exatamente como ela é, acompanhando suas andanças, visitando seus apartamentos (que abrigam suas coleções) e tentando entender sua mente criativa.

Para isso, além da própria Iris Apfel, um dos principais entrevistados da produção é seu marido, Carl. Ele acompanhava o trabalho da esposa há muitos anos (e bastante de perto, tendo sido seu companheiro na vida e nos negócios durante toda a vida), conhecendo a origem de muitas peças e, claro, é quem melhor a entende. No filme, vemos seu aniversário de 100 anos e a alegria que acompanha a festa. É estranho pensar que, um ano depois do lançamento da produção, tanto Carl Apfel quanto o diretor Albert Maysles – na época com 88 anos – viriam a falecer.

De qualquer modo, quem realmente brilha é Iris. E não é difícil entender o porquê. Sua mensagem ecoa facilmente com a minha geração. Ela não sai para fazer compras, mas para descobrir coisas novas, sem medo de fuçar lojas de quinquilharias e de pechinchar. Ela mistura peças de grandes estilistas com acessórios dos mais baratos. E ela não temo de juntar uma quantidade fantástica de colares, pulseiras e cintos, formando um visual absolutamente único.

Em um dos momentos do filme, a designer vai a uma loja para um evento onde fala com as consumidoras, ouve suas histórias e as ajuda a compor um look. Ainda que suas escolhas sejam surpreendentes e pouco usuais, as clientes parecem bem felizes e surpresas com o resultado. O discurso geral é de respeito ao estilo de cada uma, ao que fica bem e confortável e, especialmente, a alimentar a vontade de experimentar e de vestir algo que expresse a personalidade de cada uma. Iris Apfel não tem regras, apenas instinto e coragem.

Dessa forma, ao apresentar sua retratada, o documentário também traz uma mensagem de empoderamento e de estímulo à criatividade e inovação. Iris não é um filme que procura doutrinar seu público, mas é impossível não se apaixonar por uma pessoa tão fantástica e livre quanto Iris Apfel.

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