Divagações: Scoop

Como jornalista, eu sempre tenho uma perspectiva mais ‘chata’ sobre a forma como a minha profissão é retratada no cinema e na televisão. H...

Como jornalista, eu sempre tenho uma perspectiva mais ‘chata’ sobre a forma como a minha profissão é retratada no cinema e na televisão. Há alguns casos – como em Spotlight – que me fazem me sentir mais motivada e bem representada, mas também há muitas ideias irrealistas circulando por aí.

Dito isso, eu sei que Scoop é uma comédia e que sua protagonista é apenas uma estudante, então, eu dou um belo desconto para a produção. Por ser um filme de Woody Allen, eu até mesmo compreendo o fato da personagem de Scarlett Johansson dormir com suas fontes (inclusive a ponto de esquecer de fazer as entrevistas), mas isso não muda o fato de que essa é uma ideia absurda e sexista. Ainda assim, boa parte das produções do cineasta podem ser acusadas das mesmas coisas, então, esse é um tema que vai muito além desse longa-metragem em especial.

A história envolve uma aspirante a jornalista, Sondra Pransky (Johansson), que está passando as férias na casa de uma amiga rica (Romola Garai). Durante um espetáculo do mágico Splendini – ou Sid Waterman (Allen) –, ela entra em contato com o espírito de um grande jornalista recém-falecido, Joe Strombel (Ian McShane). Ele veio diretamente do além para passar adiante uma pista que pode se tornar um grande furo de reportagem: a possível identidade do Assassino das Cartas de Tarô. Com essa dica, a jovem aproveita de seus contatos na alta sociedade para ir atrás de Peter Lyman (Hugh Jackman), o charmoso filho de um lorde. Obviamente, não demora muito para que a moça caia nos encantos do possível serial killer e comece a confundir sua própria investigação com um romance.

A propósito, você não precisa se assustar. A produção é uma comédia com elementos sobrenaturais, mas ela versa muito mais sobre os dois personagens ‘normais’ fazendo bobagens em meio ao ‘mundo dos ricos e poderosos’. A princípio, as trapalhadas de Sondra e Sid, assim como a estranha relação de pai e filha que surge entre os dois, são suficientes para garantir o aspecto cômico de Scoop. Ela surge com as situações inusitadas, enquanto ele entrega as tiradas, no mais típico estilo de Woody Allen (mas já adianto que algumas são mais inspiradas que outras).

Contudo, o filme tem uma temática bem delicada – estamos falando de um assassino, afinal de contas – e o equilíbrio se torna um pouco complicado de manter à medida que a história se desenrola. Ainda assim, trata-se de uma trama séria sendo levada adiante por um bando de personagens absolutamente incompetentes. Ou seja, não é como se o perigo parecesse algo realmente real. Hugh Jackman, inclusive, não leva seu personagem muito a sério, de modo que ele se torna apenas uma caricatura de um rico jovem inglês e nunca fica muito claro se deveríamos ou não suspeitar de suas ações – exceto quando a própria protagonista passa a acreditar nas desculpas furadas que ele dá.

Vale dizer que há uma reviravolta na história, mas Scoop acaba cantando a bola muito antes do que deveria, de modo que nem me sinto culpada em entregar esse ‘detalhe’. Desse modo, por mais que tenha boas ideias, o filme é facilmente esquecível (especialmente se você já não for muito fã do humor de Allen) e se perde em soluções fáceis para algo que, a princípio, estava bem construído e poderia render uma obra mais interessante.

Outras divagações:
Bananas
Everything You Always Wanted to Know About Sex * But Were Afraid to Ask
Sleeper
Love and Death
Annie Hall
Interiors
Manhattan
Stardust Memories
A Midsummer Night's Sex Comedy
Zelig
Broadway Danny Rose
The Purple Rose of Cairo
Hannah and Her Sisters
Radio Days
September
Another Woman
Crimes and Misdemeanors
Whatever Works
Midnight in Paris
To Rome with Love
Magic in the Moonlight
Irrational Man
Café Society

RELACIONADOS

0 recados