Divagações: Pilgrimage

Pessoas falando em irlandês, francês e inglês; uma história passada no século 13; uma trama que lembra as cruzadas, mas não é bem isso; To...

Pessoas falando em irlandês, francês e inglês; uma história passada no século 13; uma trama que lembra as cruzadas, mas não é bem isso; Tom Holland, Jon Bernthal, Richard Armitage e Stanley Weber. Ao mesmo tempo em que tem coisas a seu favor, Pilgrimage é um daqueles filmes que parecem destinados ao esquecimento. Além de ter diálogos difíceis, é complicado para o público em geral se identificar com um grupo de monges verdadeiramente comprometidos com uma relíquia sagrada.

A história envolve a viagem de um grupo de monges irlandeses. Eles têm em sua posse uma relíquia de São Mathias e receberam uma ordem da Igreja para levá-la até Roma. O grupo é levada pelo irmão Geraldus (Stanley Weber), que fez um acordo com um nobre francês (Eric Godon) para poder atravessar uma zona de guerra – embora o filho dele, Raymond De Merville (Richard Armitage), não esteja muito contente com isso. Entre os participantes, além de diversos monges, há o noviço Diarmuid (Tom Holland) e um homem misterioso (Jon Bernthal), que aparentemente esteve nas cruzadas e, depois disso, fez um voto de silêncio.

Apesar dos protagonistas serem homens religiosos, o caminho é muito perigoso e Pilgrimage conta com boa dose relativamente grande de violência. Sem ser exatamente sobre o poder da relíquia, a fé dos monges ou a jornada em si, a produção traz uma mistura disso tudo e se foca em uma viagem que é destinada a dar errado desde o princípio, oriunda de uma ordem vazia, distante e ignorante das dificuldades do percurso.

Todo o sacrifício retratado valeu a pena? A princípio eu diria que não, pois me parece simplesmente uma jornada mal planejada, potencialmente suicida e totalmente sem propósito. Como a produção não cria exatamente um vínculo emocional que me faça verdadeiramente acreditar naquela fé e no poder da relíquia, fico apenas com a ingenuidade do menino (que, como é dito, não conhece nada do mundo além do monastério) e a falta de perspectiva dos demais, que participam disso tudo simplesmente porque seguem ordens.

Com isso, Pilgrimage depende fortemente de seus personagens para criar uma conexão com os espectadores. A estratégia adotada para isso até funciona, mas não é exatamente a mais comum (ou eficiente). O roteirista estreante Jamie Hannigan optou por ocultar qualquer informação sobre o passado de cada um e o que os levou até a vida no monastério. Ele cria a curiosidade, mas dá pouquíssima respostas (ou apenas vislumbres delas). Em vez disso, o que temos é o conflito de personalidade entre o recém-chegado e os demais, o companheirismo entre os monges, a motivação cega da fé e o medo (bastante justificado, inclusive) em relação a tudo o que é diferente.

Por mais interessante que isso pareça ser, o longa-metragem não consegue fazer que o público se importe o suficiente com o destino dos personagens (ou da relíquia sagrada). Também não há grandes cenas dramáticas para os atores mostrarem a que vieram – com a possível exceção de Jon Bernthal. A verdade é que, ao optar por um visual e uma abordagem realista, o diretor Brendan Muldowney acabou criando uma obra bonita, mas sem poesia e um tanto quanto cinza (desculpa, Irlanda, você é linda mesmo sendo chuvosa e barrenta). O filme respeita a fé de seus personagens, mas fica apenas nisso, sem a enaltecer, justificar ou sequer desmistificar o que quer que seja.

Dessa forma, Pilgrimage parece ser uma obra sem idade. Ele retrata um período e um local bastante específicos e traz diversos elementos importantes daquela época, sendo quase didático ao fazer isso. Seu drama é sério e, por ser fortemente vinculado ao período e aos personagens, não deve perder relevância facilmente. Ao mesmo tempo, o longa-metragem pode ser absolutamente sem graça para quem não se importa com nada disso – e, convenhamos, não é em toda esquina que encontramos quem realmente curta obras sobre monges católicos irlandeses.

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